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Mais que tecnologia: o encaixe que transforma investimento em resultado

Mais que tecnologia: o encaixe que transforma investimento em resultado

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Autor: Thiago Macedo da Silva
Data de publicação:  08/10/2025

 

Introdução

A imagem de um CEO ou diretor de tecnologia investindo pesado em projetos de TI que prometem impulsionar a transformação digital e revolucionar suas empresas, já não chama mais atenção. No entanto, ao mesmo tempo, algo que também não tem fugido ao padrão são esses mesmos profissionais, diante dessas mesmas iniciativas, enfrentando frustração, prazos estourados e muito dinheiro perdido.

Nos últimos 20 anos, testemunhamos uma revolução: da digitalização básica à explosão de ferramentas diversas, da nuvem à inteligência artificial. São soluções com automação, incontáveis sistemas, integrações complexas e plataformas cada vez mais acessíveis. Tudo, segundo uma urgência em “entregar inovação”. Mas aqui vai o choque: as taxas de sucesso mal saíram do lugar.

Quando a tecnologia não entrega valor

Relatórios do PMI no início da década de 2010 já apontavam que mais de 70% dos projetos falhavam em atingir os objetivos prometidos. Em 2012, a McKinsey, empresa americana de consultoria em gestão, mostrou que grandes iniciativas de TI ultrapassavam o orçamento em 45%, com uma entrega de valor 56% inferior ao planejado (MCKINSEY & COMPANY , 2012).

Mais de uma década depois, as estatísticas continuam praticamente inalteradas: apenas 35% concluídos com sucesso dentro do prazo e orçamento (KEEVEE RESEARCH, 2024); 65% falham total ou parcialmente (PROJECT.CO, 2024). No setor público, o cenário é ainda mais crítico: apenas 0,5% dos projetos de TI atingem os objetivos dentro do escopo planejado (MCKINSEY & COMPANY, 2020).

Reconhece isso na sua empresa? Se formos honestos diante de tamanho avanço tecnológico, não parece ser a falta de ferramentas ou métodos. Metodologias distintas, sejam as mais tradicionais ou as ágeis surgiram para dar estrutura, revelando que, de fato, há ampla envergadura técnica à disposição. Mas a frustração persiste. A tecnologia evolui; os resultados não acompanham.

E se a solução não fosse a próxima inovação, mas como ela se adequa à sua realidade? Vamos explorar esse enigma e propor uma lógica simples para virar o jogo: o “encaixe”. A ideia não é apresentar mais uma metodologia para o rol de “novidades”, mas um filtro prático para avaliar o que está faltando.

Antes de mais nada, é válido fazer algumas reflexões: Quais critérios poderiam orientar uma nova lógica de viabilidade e ajuste real das soluções? É possível reverter o cenário de projetos de alto custo e baixo impacto? Esta análise transformará dados em insights acionáveis, e, no final, em um checklist para você testar na prática. Afinal, o eixo central do sucesso é, e sempre foi o contexto.

Crescimento dos investimentos em TI

À primeira vista, a estagnação de resultados, diante de profissionais competentes, dados à mão e frameworks poderosos, poderia sugerir um recálculo de rota. Apesar disso, os investimentos não param.

No Brasil, o percentual da receita destinado a TI saltou de 1,3% em 1988 para 8,7% em 2021/22, com crescimento médio anual de 6%, e em franca tendência de alta (MEIRELLES, 2022). Cada tecnologia, embora mantenha sua aplicação específica, converge para um objetivo central: reforçar o diferencial competitivo das empresas em um cenário de transformação digital constante.

Veja o gráfico de gastos em TI (% do faturamento de médias e grandes empresas no Brasil, 1991 a 2022) – uma linha nitidamente ascendente.

Disponível em https://www.tpsit.com.br/blog/investimento-tecnologia

 

No entanto, mais do que acompanhar as tendências, as empresas têm investido de forma mais estratégica, focando em retorno claro, agilidade e inovação. Além disso, o impacto da pandemia acelerou a adoção em massa de frentes como computação em nuvem, big data e analytics, inteligência artificial, segurança da informação, Internet das Coisas, robótica e redes sociais ganharam protagonismo, impulsionando eficiência, escalabilidade e redução de custos.

Contudo, mesmo diante dessa diversificação tecnológica, com os investimentos pulverizados em diferentes frentes, o mercado de software continua como o elo central, conectando todos os outros. E aqui reside o desafio: é exatamente nesse cruzamento entre pessoas, processos e tech onde a complexidade se intensifica, elevando os riscos de insucesso.

Quem anda investindo em software?

Ainda no recorte das últimas duas décadas, o mercado global de software saltou de US$ 225 bilhões em 2010 para US$ 730 bilhões em 2024, projetado para US$ 1,3 trilhão até 2030, segundo levantamento da Statista, plataforma de dados e inteligência empresarial (STATISTA, 2024). 

No Brasil, de acordo com relatório da Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES, 2023), o setor acompanhou a trajetória global, movimentando R$ 78,6 bilhões em 2022 e crescendo cerca de 17% ao ano.

Este, embora represente um cenário superlativo em termos de volume, em virtude do ambiente competitivo, também empurra as iniciativas para níveis cada vez maiores de complexidade. São ferramentas que envolvem integração em ambientes híbridos, variando entre sistemas locais (on-premise) e nuvem, além da coordenação entre múltiplas equipes internas e fornecedores externos.

Soluções SaaS, plataformas digitais e sistemas customizados se consolidaram como pilares essenciais para operações diárias, desde canais digitais de atendimento e vendas até sistemas financeiros internos, inteligência de negócios e análise de dados. Hoje, é impossível aplicar a filosofia do “implementar e esquecer”: softwares, mesmo em empresas mais tradicionais, se tornaram ativos inegociáveis e centrais para a transformação digital.

Impacto nos setores produtivos

A tônica é de evolução contínua. O impacto, por sua vez, é incontornavelmente direto nos desafios de gestão, comunicação e adaptação, gerando oportunidades, mas também muitos desafios, para todos os setores produtivos:

  • Indústria: Investimentos em automação, ERP customizados, sistemas MES e analytics para manutenção preditiva (Indústria 4.0) aumentaram produtividade, mas integrar sistemas legados e operar em ambientes híbridos ainda é um desafio (MEIRELLES, 2022; ABES, 2023).
  • Comércio: A expansão do e-commerce, especialmente com a pandemia, impulsionou investimentos em gestão de estoque, CRM, plataformas omnichannel e analytics. Soluções SaaS facilitam a escalabilidade, mas a integração com marketplaces e logística exige ajustes constantes (BCG, 2020; STATISTA, 2024).
  • Serviços: Com alta diversidade, o setor investe em sistemas financeiros, ERP, IA e análise de dados para otimizar operações e experiência do cliente. Complexidade organizacional, compliance e governança de dados são desafios centrais (MEIRELLES, 2022; ABES, 2023).

Problema crônico: por que tantos fracassos?

Retorno, então, para a pergunta que enseja estas considerações: se os investimentos e as ferramentas são cada vez maiores e mais sofisticados, por que ainda continuamos a falhar na execução? 

Como temos visto, muitos projetos inseridos em iniciativas de transformação digital, ainda que contem com metodologias e práticas consolidadas de gestão, enfrentam dificuldades de entrega, cumprimento de prazos e alinhamento com os objetivos estratégicos.

A resposta que aqui defendo, diante da questão central desta análise, passa por compreender as limitações das abordagens tradicionais e modernas que guiam esses projetos, assim como os desafios que vão além da tecnologia, envolvendo processos, cultura e adaptação real ao contexto organizacional. Repito: o eixo central é o contexto.

Fatores críticos

Antes de tudo, é imperativo que, caso queiramos extrair dos dados um cenário, definamos o que é falha e sucesso neste contexto. Antes, o que era considerado positivo apenas por causa da implementação, hoje passou a ser avaliado com base no impacto gerado no negócio.

Deixou-se de considerar a novidade ou inovação como métrica suficiente. Sucesso, agora, não é mais “implementar”: é impacto no negócio (ROI, lucratividade, eficiência…). Projetos técnicos perfeitos, mas sem valor, viram passivo.

É isso que aponta o estudo da Boston Consulting Group (BCG, 2020), baseado na experiência com 70 empresas líderes em suas transformações digitais e na percepção de 825 executivos. Segundo a pesquisa, que os divide em zonas:

  • Apenas 30% das transformações digitais alcançaram ou superaram o valor-alvo e geraram mudanças sustentáveis (“vencedores”);
  • 44% criaram algum valor, mas não atingiram suas metas, gerando mudanças limitadas (“preocupação”);
  • 26% criaram menos de 50% do valor-alvo e não geraram mudanças sustentáveis (“sofrimento”).
Boston Consulting Group. Flipping the Odds of Digital Transformation Success. 2020.

 

Além deste levantamento da BCG, outros estudos confirmam o mesmo cenário: apenas 12% das transformações atingem ou superam expectativas, somente 39% sustentam ao longo do tempo (BAIN & COMPANY, 2023); apenas 32% das iniciativas digitais geram valor de negócio significativo (DELOITTE, 2021).

Um recorte para a realidade brasileira

No momento em que voltamos os olhos para o contexto interno, os desafios se intensificam em comparação com a média global. No Brasil, ainda de acordo com o estudo da Bain, apenas 8% das empresas atingem ou superam as expectativas em suas iniciativas de transformação. Por outro lado, 66% conseguem sustentar os resultados alcançados, uma taxa consideravelmente superior aos 39% que o cenário global apresenta.

Também há aspectos relevantes que surgem quando a análise considera diferentes portes de empresas. No caso de PMEs, a taxa de sucesso em programas de transformação digital é alarmantemente baixa, geralmente inferior a 20% (TRAÇA, 2019).

Diante do porte dessas empresas (micro e pequenas com faturamento anual de até R$ 4,8 milhões e médias de até R$ 300 milhões), o dado reforça a necessidade de uma abordagem estruturada, com atenção especial a fatores como governança, liderança comprometida e gestão eficaz de riscos, elementos fundamentais para evitar que a transformação digital se reduza a um investimento sem retorno.

Quais são os fatores críticos de fracasso?

O estudo da BCG identifica que, mesmo quando consideramos a variação de setores ou estágio das empresas, os desafios enfrentados no início da jornada de transformação digital são bastante semelhantes:

  • Definição clara do propósito da transformação;
  • Escolha correta de escopo e prioridades.
  • Engajamento da liderança (especialmente intermediária).
  • Estabelecimento de uma governança ágil.
  • Alocamento de talentos com ênfase em métricas.
  • Integração entre tecnologia, processos e pessoas, evitando silos e resistência organizacional.

Já o estudo da Bain & Company adiciona para o Brasil três grandes entraves: resistência à mudança, falta de apoio de stakeholders e dificuldade em reter talentos (BAIN & COMPANY, 2023). Segundo a Bain, a superação e o sucesso estariam associados à presença de lideranças eficazes, alocação adequada de recursos em funções críticas e decisões orientadas por dados.

Para ampliar as chances de êxito, a consultoria propõe seis regras essenciais para a implementação de transformações:

  1. Transformação contínua, não pontual;
  2. Incorpore à operação diária, sem divisões entre “normal” e “modo transformação”;
  3. Gerencie energia: foque em poucas frentes;
  4. Aspirações além de metas (use benchmarks);
  5. Engaje toda a organização;
  6. Considere capital externo.

Uma nova lógica: o encaixe além da tecnologia

Se a pergunta de um milhão de dólares, e talvez muito mais do que isso, é “por que projetos falham?”, seria contraproducente, e completamente frustrante, não encaminhar o final desta análise para uma solução. 

Por isso, ao invés de partir da premissa de que toda e qualquer tecnologia precisa ser adotada para garantir competitividade ou sucesso na transformação digital, proponho um novo paradigma: a lógica de encaixe – um filtro pré-investimento, além da tech.

Checklist da lógica do encaixe

Essa filosofia se baseia em cinco elementos principais que também fundamentam um simples checklist para avaliar o fit entre tecnologia e contexto:

  1. Diagnóstico do Problema Real: Qual é o entrave? Trata-se de uma questão de escala, eficiência, atendimento, integração? Soluções falham sem que haja um problema bem definido.
  2. Maturidade Organizacional: Não basta que a tecnologia esteja pronta. A empresa também precisa estar. Cultura, processos, infraestrutura, liderança. Como estão esses fatores?
  3. Alinhamento com Estratégia: Há uma conexão clara com os objetivos do negócio? Custos, compliance, diferenciação, crescimento e aspectos similares devem estar na pauta. 
  4. Capacidade de Integração e Operação: Existe capacidade de integração com os sistemas e processos atuais? Mais que isso, há skills para operar com fluidez o que está sendo proposto? Tecnologia sem capacidade de operação gera ruído, retrabalho e desconfiança. É a receita perfeita para o caos.
  5. Indicadores de Valor Percebido: Para além do ROI financeiro, deve haver um claro estabelecimento de métricas de sucesso (tempo reduzido, retrabalho evitado, aumento de aderência do cliente e outros). Indicadores simples, mas alinhados ao dia a dia, ajudam a manter o projeto ancorado no valor real.

Exemplo prático

Para fixar o problema, imagine uma empresa do setor de logística que decide implementar um sistema avançado de roteirização com inteligência artificial, estimulado por uma solução de mercado promissora. No entanto, sua operação ainda depende de planilhas manuais, motoristas com pouca familiaridade digital e processos informais de tomada de decisão. 

O projeto falhará, não por limitações da tecnologia, mas pela ausência de ajustes com a realidade organizacional, comprometendo a iniciativa de transformação digital na empresa. Não havia clareza de problema, nem maturidade suficiente para absorver a solução. Ou seja, dinheiro jogado fora que o checklist acima poderia ajudar a preservar.

Assim, cabe atenção: se em um projeto real mais de duas perguntas não tiverem resposta clara, talvez o problema não esteja na solução, mas no momento de implementá-la.

Honestidade na avaliação e zero paixão: o caminho do sucesso

De fato, a transformação digital transcendeu o status de diferencial competitivo para se tornar um imperativo de sobrevivência. Ainda assim, o paradoxo persiste: tecnologias avançam, mas as taxas de sucesso permanecem estagnadas. 

O cerne do problema, como exploramos, não reside na escassez de inovações, frameworks ou investimentos (pois eles estão aí), mas na incapacidade de converter intenção em resultados tangíveis. Metodologias, por mais robustas que sejam, falham sem um alicerce sólido de contexto, viabilidade e propósito.

A lógica de encaixe aqui apresentada não busca substituir abordagens ágeis ou frameworks existentes. Antes, atua como um filtro preliminar, um critério essencial que alinha tecnologia ao negócio, evitando que se torne mais um projeto condenado à estatística do fracasso. 

No fim, não faltam métodos nem orçamento — falta encaixe. Ele nasce do diagnóstico certo e da coragem de priorizar. Ter ao lado parceiros experientes, com visão integral de estratégia, operação e tecnologia, é o que transforma um projeto de custo em projeto de resultado.

Esse debate precisa continuar dentro das empresas e nas salas de decisão, onde escolhas definem se a transformação será desperdício ou vantagem competitiva.

Na OnSet, ajudamos negócios a fazer exatamente isso: transformar projetos em crescimento tangível e inovação em vantagem competitiva. Fale com nossos especialistas e descubra como alinhar tecnologia, estratégia e contexto para levar sua transformação ao próximo nível.

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Referências:

ABES – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EMPRESAS DE SOFTWARE. Panorama do setor de software no Brasil. 2023. Disponível em: https://abes.org.br/apresentacao-estudo-do-mercado-brasileiro-de-software-2023-panorama-e-tendencias/. Acesso em: 25 jun. 2025.

BAIN & COMPANY. Apenas 8% das iniciativas de transformação em empresas brasileiras atingem ou superam expectativas, revela Bain. 2023. Disponível em: https://www.bain.com/pt-br/about/media-center/press-releases/south-america/2023/apenas-8-das-iniciativas-de-transformacao-em-empresas-brasileiras-atingem-ou-superam-expectativas-revela-bain/. Acesso em: 25 jun. 2025.

BCG – BOSTON CONSULTING GROUP. Flipping the odds of digital transformation success. 2020. Disponível em: https://www.bcg.com/publications/2020/increasing-odds-of-success-in-digital-transformation. Acesso em: 25 jun. 2025.

DELOITTE. The kinetic leader: boldly reinventing the enterprise. Deloitte Insights, 2021. Disponível em: https://www.deloitte.com/content/dam/assets-zone2/middle-east/en/docs/industries/technology-media-telecommunications/2024/2020%20Global%20Technology%20Leadership%20Study%20-%20Middle%20East.pdf. Acesso em: 25 jun. 2025.

KEEVEE RESEARCH. The state of project management 2024. 2024. Disponível em: https://keevee.com/report-2024. Acesso em: 21 mai. 2025.

MEIRELLES, Fernando S. Panorama do uso de TI no Brasil – 2022. Portal FGV, 2022. Disponível em: https://portal.fgv.br/artigos/panorama-uso-ti-brasil-2022. Acesso em: 25 jun. 2025.

MCKINSEY & COMPANY. Delivering large-scale IT projects on time, on budget, and on value. 2012. Disponível em: https://www.mckinsey.com/capabilities/mckinsey-digital/our-insights/delivering-large-scale-it-projects-on-time-on-budget-and-on-value. Acesso em: 21 mai. 2025.

MCKINSEY & COMPANY. Why IT projects in the public sector often fail. 2020. Disponível em: https://www.mckinsey.com/industries/public-sector/our-insights/unlocking-the-potential-of-public-sector-it-projects. Acesso em: 21 mai. 2025.

PROJECT.CO. Project management statistics 2024. 2024. Disponível em: https://project.co.uk/statistics. Acesso em: 21 mai. 2025.

STATISTA. Enterprise software market worldwide revenue from 2008 to 2024, with forecasts until 2030. 2024. Disponível em: https://www.statista.com/statistics/203428/total-enterprise-software-revenue-since-2008/. Acesso em: 25 jun. 2025.

TRAÇA, Daniel. Evolução digital: o que as PME precisam. Observador, 2019. Disponível em: https://observador.pt/opiniao/evolucao-digital-o-que-as-pme-precisam/. Acesso em: 25 jun. 2025.

Revisão e Publicação: Alidiane Xavier 

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